23/01/13

Escultura de António Teixeira Lopes "Flora" 1904

António Teixeira Lopes  1866-1942

António Teixeira Lopes nasceu em Vila Nova de Gaia a 27 de Outubro de 1866, numa modesta casa próxima da Fábrica Cerâmica das Devesas. Era filho de José Joaquim Teixeira Lopes (1837-1918), ceramista e escultor, e de Raquel Pereira Meireles Teixeira Lopes, naturais da freguesia de São Mamede de Ribatua do concelho duriense de Alijó. Foi baptizado a 12 de Novembro de 1866, na Igreja Matriz de Santa Marinha, tendo por padrinho o industrial António de Almeida Costa.
Iniciou a aprendizagem de escultura na oficina paterna e teve o seu primeiro emprego na Fábrica de Cerâmica das Devesas.

Em 1881, numa visita com pai à I exposição colectiva do Centro Artístico Portuense, no Palácio de Cristal, descobriu a sua vocação, quando viu a escultura Flor Agreste de Soares dos Reis.
No ano seguinte ingressou na Academia Portuense de Belas Artes, sem, no entanto, deixar de trabalhar. Nesta escola foi aluno dos mestres Marques de Oliveira e Soares dos Reis.
Depois de terminar o curso, em 1884, com a classificação de dezassete valores, concorreu ao pensionato em Paris, em 1885, mas estranhamente perdeu o concurso para Tomás Costa. Apesar deste contratempo, acabou por prosseguir os estudos na cidade luz, na companhia de José de Brito. António beneficiava de uma subscrição particular para estudar Escultura, enquanto José detinha uma bolsa do rei, para o aperfeiçoamento de Pintura. O seu pai acompanhou-o.

Em Paris recebeu ensinamentos de Paul Berthet e no Salon admirou as obras de Rodin, Merci, Falguière e Barrias. Frequentou a Escola de Artes Decorativas, dirigida por Gautier, mas o ensino aí praticado desiludiu-o. Por esse motivo realizou as provas de admissão às Belas-Artes, nas quais se classificou em primeiro lugar. Inscreveu-se então no curso de Escultura, onde teve aulas com Matias Duval e Ivan. Em 1886 alcançou um primeiro prémio num concurso de ronde-bosse e fez férias em Portugal.
De volta à capital francesa participou no Salon com Retrato de criança, em 1887. No ano seguinte repetiu a experiência com Ofélia e o botão de Rosa. Em 1889 ganhou menções-honrosas com as obras Comungante e Caim, e com A Viúva obteve uma medalha de ouro de terceira classe, no Salon de 1890. No Salon de 1891 apresentou Criança napolitana, no de 1892 os bustos da Condessa de Valenças e de Madame Michon, e no de 1893 expôs a versão em bronze de A Viúva, obra que em 1896 recebeu uma medalha de ouro em Berlim.
As suas influências artísticas foram predominantemente francesas mas também seguiu a escultura de Donatello.
Em 1891 estreou-se a expor individualmente no Palácio da Bolsa, no Porto, lugar onde voltou a mostrar a sua obra com Veloso Salgado, em 1892. Nos anos seguintes continuou a expor, também em Lisboa, e a sua obra foi novamente premiada.
Em 1893 o escultor casou com Adelaide Fontes. Mas este enlace durou apenas um dia, após o qual devolveu a esposa à família. Mais tarde, a partir de 1903 desenvolveu uma relação mais feliz com Aurora, a sua principal modelo.
O sucesso alcançado pelas suas obras permitiu-lhe contactar e conviver com a nobreza, nomeadamente com o rei D. Carlos e o seu irmão D. Afonso, e com a duquesa de Palmela, camareira de D. Amélia que lhe encomendou uma escultura da Rainha Santa, em 1895, destinada a Santa Clara-a-Nova de Coimbra.
Nesse ano, o seu irmão, José Teixeira Lopes (1872-1919), projectou a seu pedido uma Casa-Atelier, na Rua Marquês Sá da Bandeira, no centro de Vila Nova de Gaia, solenemente inaugurado a 27 de Junho de 1896, com a exposição da estátua de madeira pintada da Rainha Santa.

Em 1897 recebeu do Brasil uma grande encomenda. Foi incumbido de produzir as três portas Igreja de Nossa Senhora da Candelária, do Rio de Janeiro.
Entre 1899 e 1904 executou três obras de inegável qualidade e impacto: o monumento fúnebre de Oliveira Martins - A História - para o Cemitério dos Prazeres, em Lisboa; o monumento de homenagem ao horticultor e floricultor José Marques Loureiro, colocado no Jardim da Cordoaria, no Porto e composto por uma alegoria, a Flora, e um busto do homenageado; e o monumento de Eça de Queiroz, para o Largo Barão de Quintela em Lisboa.
Em 1900 criara Santo Isidoro e uma Agricultura para a Exposição Universal de Paris. Nessa exposição expôs também A Dor, A Historia e Raquel, tendo obtido um grand prix e a condecoração de Cavaleiro da Legião de Honra.
O triunfo em Paris fortaleceu o seu sucesso e fez dele o natural sucessor de Soares dos Reis. Por isso, em 1901 assumiu o lugar de professor da academia portuense, que manteve até 1936 (ano da sua jubilação), embora tenha, temporariamente, sido interrompido entre 1916 e 1918.
A sua carreira, no entanto, não se fez somente de sucessos. O escultor lamentou a perda do concurso para o monumento do Infante D. Henrique, a projectar na praça portuense do mesmo nome, ganho pelo eterno rival Tomás Costa, e o chumbo da sua proposta para a imagem de Nossa Senhora de Fátima, preterida pela obra do santeiro José Ferreira de Tedim também não o deixou indiferente.
Em 1933, a Casa-Atelier de Teixeira Lopes foi doada à Câmara Municipal de Gaia, com a condição de o artista aí residir até ao fim dos seus dias.

Morreu em São Mamede de Ribatua, no dia 21 de Junho de 1942.
O testamento de 1939 fez seu principal herdeiro o sobrinho José Marcello Teixeira Lopes, filho do irmão José e de Joana Maria Emília Bégaut. Naquele documento também constituía como herdeiras as irmãs (Adelaide, Emília e Maria Raquel), outros dois sobrinhos (António Júlio e Manuel Ventura Teixeira Lopes), a cunhada Emília Ernestina, determinou que se entregassem 3 contos à Academia de Belas Artes do Porto, para premiar anualmente o melhor aluno de escultura, e contemplou ainda o caseiro das propriedades durienses, Joaquim Manuel de Castro, as serviçais da casa de Gaia, e os pobres das freguesias de Mafamude e de São Mamede de Ribatua a quem doou 1000$00.
 
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